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sexta-feira, 18 de março de 2011

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Almiro Sena lança livro e afirma que discurso de
negação do racismo reforça sua existência


“O racismo se delineia como um discurso que se estabelece desde uma conversa inocente de família, na qual valores negativos sobre a população negra são colocados, até uma propaganda ou nota divulgada pela imprensa que atinge a sociedade de forma mais ampla”. Mas, neste país, de população acentuadamente negra, em que brancos e negros são vistos diferentemente e valorizados conforme a cor da pele, propaga-se o mito da democracia racial. As afirmações são do promotor de Justiça Almiro Sena Soares Filho, que por quatro anos coordenou a Promotoria de Justiça de Combate à Discriminação do Ministério Público do Estado da Bahia e, na noite ontem, dia 23, lançou o livro ‘A cor da pele: na sociedade racista do Brasil, o normal é ser branco’. Na obra, ele se insurge contra o discurso de negação do preconceito e discriminação racial tão presente no Brasil, indicando, assim como fez durante a palestra proferida em sessão especial da Câmara de Vereadores de Salvador, que pesquisas, estatísticas, dados gráficos e casos observados comprovam as injustiças produzidas pelo racismo no país. Entretanto, provocou ele, esquivamo-nos de pensar o Brasil e todas as suas políticas a partir de um recorte étnico-racial, porque nos esquecemos que o racismo é elemento estruturante dessa sociedade e deve ser sempre discutido.

Segundo o promotor de Justiça, que atualmente coordena o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do MP (Ceaf), diversos estudos comprovam que o recorte étnico-racial, quando considerado, muda a interpretação sobre qualquer fenômeno abordado na sociedade brasileira. “Se a questão é de lógica, então não há ao que se contrapor”, assinalou ele, destacando que o que se pretende é manter um equivocada compreensão da realidade deste país. Em seu livro, Almiro Sena constata que a cor da pele influencia na existência da exclusão social e que a teoria da superioridade de certas raças humanas sobre as demais é uma realidade prejudicial no desenvolvimento da população negra do Brasil. Para ele, “o discurso da negação do preconceito e da discriminação racial contribui para reforçar sua existência e impossibilita sua desconstrução ideológica entre o grupo discriminador, além de facilitar a sua reprodução no grupo discriminado e dificultar a implementação de medidas de promoção da igualdade”. “Motivo de orgulho e admiração para o MP baiano, o livro do promotor traz extrema satisfação à Instituição porque reafirma a significante necessidade de defesa da igualdade racial”, afirmou o procurador-geral de Justiça Wellington César Lima e Silva, que compôs a mesa da sessão especial junto com o vereador Henrique Carballal; o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Régis Mascarenhas; o secretário municipal da Reparação, Ailton Ferreira; o deputado estadual, Bira Coroa; o tenente-coronel José Jorge Nascimento; o historiador e escritor Jaime Sodré; e a ialorixá Mãe Nice.

Ressaltando que Almiro Sena “representa a militância do MP afinada com ações em domínio tão especial como a questão racial no Brasil”, o PGJ lembrou que, neste país, há a crença de que a questão do preconceito não merece o foco que ela realmente deveria ter. A nossa história, assinalou ele, aponta com clareza o quanto de sofrimento a intolerância pode produzir, por isso, a reflexão serena e profunda proposta pelo autor do livro contribuirá para se ter uma melhor dimensão da questão étnico-racial, com a crítica que se faz necessária e dimensão humana que a questão tem. O livro, segundo Jaime Sodré, é de qualidade jamais vista e, por isso, deveria fazer parte do acervo de todas as bibliotecas públicas da cidade. Indicação feita, compromisso assumido pelo vereador Carballal que apresentará a proposição ao Município. A noite de ontem, que marcou mais um dia das homenagens feitas pela Câmara Municipal ao ‘Dia da Consciência Negra’, marca também mais um ato de contribuição à desconstrução de um discurso enraizado na sociedade brasileira, lembrou o secretário da Reparação, parabenizando e agradecendo a Almiro Sena pela edição do livro. “Que bom que negros e não-negros estão buscando combater o racismo e entendendo que, no Brasil, existe uma pobreza que tem cor”, complementou Ailton Ferreira.
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Informação enviada por Klaustortelli@hotmail.com - via email.
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